quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fille (cinco)

- Credo Maria Julia, que cara é essa? - Amanda pergunta.
- ... - tento falar alguma coisa, mas minha voz não sai.
Lembro de tudo o que eles fizeram, tudo o que falaram e tento nem imaginar o que eles pensaram aquela noite, no ponto de ônibus. Levantei do refeitório e saí.
Rodei o pátio da escola procurando um lugar onde ninguém pudesse me ver. Avistei uma casinha de madeira, velha, mas me pareceu o adequado.
É nessas horas que ficamos pensando na família, nos amigos antigos, em casa. Estava viajado, como de costume, até que levei um susto:
- Posso entrar?
- Oi? - quem era aquela pessoa?
- Oi, meu nome é Miguel - ele disse.
- Ahm, oi - reconheci o quarto menino, que estava sentado na mesa de almoço com a gente.
- Posso me sentar? - perguntou, já sentando.
Fiz que sim com a cabeça e, sem qurer, deixei escorrer uma lágrima.
- Você está chorando? - me olhou com uma cara estranha.
- Não. Quer dizer, sim - confusa.
- Mas por quê? - ele ficou me olhando.
Viu que eu não respondi e resolveu ficar quieto. Ficamos horas e horas sentados naquela casinha abandonada. Perdemos a aula e eu não conseguia entender porque que ele estava ali comigo.
Não aguentava mais aquele silêncio, resolvi começar a conversa:
- A festa que vai ter, tem todo ano?
- Sim - ele respondeu, frio.
Hm, tá. Achei que ele continuaria, me contando como era, o que tinha. Mas não, apenas perguntou:
- Você quer ir comigo?
Tive que parar um tempo para pensar. Coisas desse tipo não costumavam acontecer comigo. Eu era uma menina esquecida pelo mundo masculino. Era na minha e ninguém prestava atenção em mim. Por que ele estava fazendo essa pergunta?
- Tudo bem, acho - respondi, por fim.
Silêncio.
Me dei conta de que estávamos lá há muito tempo quando, pela minúscula janelinha, vi o sol se por.
- Nossa, já é tarde, tenho que ir - disse, levantando.
Ele puxou meu braço e eu caí. Nossos rostos estavam quase se tocando, os olhos quase fechando, os lábios quase beijando quando ouvimos um barulho.

Continua,
A Menina

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