sábado, 26 de junho de 2010

Fille (quatro)

Estavam me olhando e cochichando. Sempre olhando para mim. Até que o mais alto dos três falou:
- A gatinha está sozinha?
Fingi que não era comigo, mas eu reconheci aquela voz, já havia escutado-a em algum lugar.
- Ih, acho que ela não quer papo contigo - falou o mais de trás.
Começaram a conversar entre eles. Tentei parecer tranquila e não ligar, mas sabia que o assunto era eu.
Agradeço mentalmente quando passa um ônibus. Independente de qual seja e para onde vai me levar eu faço sinal para ele parar.
Sento no banco da frente ainda fico ouvindo a voz dos meninos na minha cabeça. Eu conhecia aquelas vozes. Mas de onde? Não conseguia assimilar com nada, mas tinha certeza que eram vozes familiares.
Deu tudo certo e cheguei em casa. Estava entrando na pensão quando eu vi a mesma senhora que estava sentada no banco antes. Dei boa noite e ela retribuiu apenas com um sorriso.
Fui dormir. Estava exausta.
Acordei no dia seguinte mas parecia que eu tinha acabado de deitar. Era como se a noite de sono não fosse verdade. É, isso costumava acontecer quando eu pensava demais antes de dormir.
- Maju, porque você foi embora correndo ontem, menina? - para começar meu dia, vem a Amanda, radiante como sempre.
- Não estava me sentindo muito bem - minto.
- Que pena - ela dá um suspiro e o sinal toca logo em seguida. Aproveito e acho um jeito de sair de perto dela.
As aulas foram normais. O professor de História da Arte passou o nome de três livros para nós lermos para a próxima aula. Eram livros pequenos, daria para ler tudo em um dia. Fui direto para a biblioteca locá-los.
A bibliotecária foi bem simpática, ficamos conversando por um tempinho até eu me tocar da hora e perceber que precisava ir almoçar para a aula do período da tarde.
- Maria Julia, senta aqui com a gente - ouvi uma voz e nem precisei me virar para saber que era a Amanda.
Me servi e fui. Quando cheguei ela estava falando com o namorado, sobre uma festa:
- Vai ser uma festa de inauguração, para todos os alunos da escola. Não é genial?
- Claro amor, você tem ideias brilhantes - ele pareceu gostar.
- Você vem né amiga? - ela olhou para mim.
- Engoli direto o que estava comendo, não era muito de festas.
- Ahm, sim - menti mais uma vez.
- Ah, vamos - ela insistiu, parecendo perceber a minha insegurança na afirmação.
Neste mesmo momento chegaram quatro meninos, três na frente e um mais para trás, os amigos do Daniel, namorado de Amanda. Eram os mesmos que estavam com ele no dia do chocolate quente.
- Oi gente - os três primeiros falaram juntos.
Foi quando eu reconheci. Sabia de onde conhecia aquelas vozes.


Continua,
A Menina

3 comentários: