domingo, 6 de junho de 2010

neste verão (parte cinco)

Liguei para o aeroporto e consegui uma das últimas passagens para São Paulo, em um voo antes do dele. Nem pensei em arrumar a mala, joguei umas três mudas de roupa dentro de uma mochila e fui.
Férias, aeroporto lotado. Tudo bem, eu não estava com pressa mesmo. Sabe quando você não tem o que fazer? Quando as coisas têm que dar certo, mas elas dão errado? Então, multiplique por dez e ainda não era o que eu estava sentindo. Minha sorte é que, como o voo estava quase decolando, eu pude ir em um guichê só das pessoas atrasadas, oi.
- Pois não - disse a atendente.
- É, o voo 1993 - entreguei o papel à ela.
- Só um minuto, por favor - acho que ela não sabia que eu NÃO tinha esse minuto.
- Er, tudo bem - um minuto pareceu uma hora.
- Está aqui, pode embarcar, mas acho melhor você correr - disse ela, na maior tranquilidade.
- Obrigada - acho que ela nem ouviu, saí voando.
Corri tanto que acho que seria capaz de ganhar uma maratona, tá, exagero, mas foi quase.
Quando eu cheguei no avião, vi que o meu lugar era do lado de um senhor que estava dormindo. Tentei sentar o mais cuidadosa que pude e acho que consegui, ele nem se moveu.
Eu estava quase pegando no sono quando eu escuto uma voz:
- Ô menina, tão novinha, o que faz aqui sozinha? - pergunta o senhor ao meu lado.
- Oi, desculpa - respondi, não entendendo nada.
- Sabe que eu estou viajando porque daqui uma semana é o meu aniversário de casamento, 60 anos, vou fazer uma surpresa pra minha velhinha - achei tão lindo o jeito que ele falou.
- Ah, mas que fofo - acho que eu não pareci empolgada, mas eu estava, mesmo.
- Mas você, que carinha triste... - acho que as pessoas vão ficando mais velhas e aprendem a ler pensamentos.
- Sou tão transparente assim? - perguntei.
- É, me conta, o que aconteceu? - lá vou eu explicar.
Ele me pareceu simpático, então eu resolvi contar, contei tudo, do começo até hoje.
- Então, foi isso - finalizei.
- Mas que bobinha, você - o que? ele estava me chamando de bobinha?
- Eu? Por quê? - indinei.
- O menino é tão carinhoso, não mentiu e vocês passaram tantos momentos juntos. Ele estava nos seus planos? - o senhor estava se revelando.
- Não - respondi, seca.
- Então, você também não estava nos dele. Pensa nisso - ele conclui.
- Vou pensar, obrigada - terminamos a conversa aqui porque o avião já havia pousado.
Pronto, cheguei, agora era só esperar.
Três horas depois, ouço a tia do aeroporto anunciar a chegada de um voo.
Era o dele.
Lucia, é agora ou nunca.

Continua,
A Menina.

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