terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fille (catorze)

- Maju, Maju, acorda amor. Majuuuuuu - ouvi o meu, ainda posso dizer namorado?, gritando.
Eu tentei responder, eu juro que eu tentei, mas a minha voz não saiu. Eu vi a cara de preocupação dele mas eu não conseguia falar. Eu queria gritar, falar que eu o amava, mas a única coisa que consegui fazer foi liberar uma lágrima. As últimas palavras que eu ouvi foram:
- Ela está bem, ela está bem. Ela chorou.
Enquanto eu dormia, tudo passou como um filme na minha cabeça. O primeiro dia de aula, a primeira aula com o Miguel, o beijo, os encontros, as risadas, os momentos. A chegada da Bárbara, o meu inferno, o sorvete. Novamente tive a mesma sensação de querer falar e não consegui.
Senti uma mão na minha. Senti um cheiro familiar, uma respiração que me tranquilizava.
- Ei, menino, você precisa sair dai - alguém disse, provavelmente o médico.
- Não, eu vou ficar aqui com ela - Miguel.
- Mas ela precisa descansar - o médico.
- E eu estou atrapalhando? - ele sempre conseguia ser tão inteligente.
"Não, ele não está, deixa ele aqui comigo" - tentei, mas nada.
- Tudo bem, pode ficar - o médico finalmente cedeu.
- Se eu soubesse que era a última vez não teria dito nada do que disse, não teria feito nada além de te abraçar e aproveitar cada segundo sem tirar os olhos de você. Se tivessem me avisado que era a última vez eu poderia implorar para que você ficasse mais um pouco, só para te explicar que mais um pouco seria muito pouco e que por menos que fosse, já seria muito para mim. Se eu soubesse, te falaria mil coisas sem dizer uma palavra, te mostraria mil dias de agonia em um olhar, e quando você estivesse saindo, eu te chamaria de volta só para dizer mais uma vez o 'eu te amo' que ninguém mais vai ouvir e te dar um último abraço, com o amor que ninguém mais te entregaria - se eu não estava ficando louca, foi o Miguel falando.

A Menina

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