quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fille (dez)

Foi perfeito, ali, no chão da cozinha. Como de costume esqueci da vida e não sei como acordei na cama dele. Quer dizer, eu sei. Acho que ele deve ter me levado.
Quando acordei ele ainda estava dormindo, como um anjinho. Tive que me controlar para não ficar horas olhando aquela carinha fofa. Fui procurar alguma coisa pra comer.
- Bom dia! - escuto no meu ouvido.
- Merda - derrubo a caneca na pia.
- Mas você é uma desastrada mesmo - ele começa a rir.
E antes que eu pudesse me defender ele já me beijou.
- Isso não vale - reclamei.
- Isso o que? - ele fez cara de inocente.
- Isso - beijei-o.
- É, realmente isso é golpe baixo - rimos.
Ele me deixou em casa, é, isso ia acontecer um dia. Eu não ia viver naquela maravilha até a eternidate.
Voltando para a realidade, era dia de escola. Tudo havia acontecido normalmente, mas tive a ótima surpresa de encontrar meu, posso dizer namorado? me esperando na porta de casa.
- Bom dia amor - falou.
- Bom dia lindinho - respondi.
- Vamos? - perguntou.
- Aham - sorri.
Chegando na escola cada um foi para sua aula.
Na hora do almoço:
- Maju, vem cá a-go-ra - disse Amanda. É, ela já estava normal comigo. A história foi meio longa mas deu tudo certo.
- Ahm, tá - respondi, sem saber direito.
- Aconteceu uma coisa muito muito muito séria com o Miguel - ela falou, me levando para a praça de alimentação.

Continua,
A Menina

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fille (nove)

Eu ia deixar, mesmo. Estava sendo tudo tão perfeito que eu pensei: 'porque não?'. Mas consegui me conter:
- Ei, o que você está fazendo?
- Nossa, desculpa - ele disse, assustado.
- Tudo bem, não precisa pedir desculpa, só vai com calma - acalmei-o.
- É tudo tão incrível com você, nunca passei por isso antes, eu sempre quero te ver mais e mais... - fofo.
- Nunca aconteceu comigo também - revelei.
- Mesmo? - falou.
- Sim, por que o espanto? - perguntei.
- Ah, você é linda, incrível, perfeita... - começou.
- Mas - eu disse.
- Mas nada, só sempre pensei que os meninos caíam aos seus pés - finalizou.
Não consegui me segurar, comecei a rir muito, muito mesmo.
- O que foi? - ele perguntou.
- Nada, é só que isso NUNCA aconteceu - falei.
- Não acredito, que bando de menino idiota - ele riu.
Eu ri mais ainda.
Ele colocou a mão delicadamente sobre a minha boca, fazendo com que eu parasse de rir, e conseguiu, assim que começou a me beijar. Ele sempre conseguia, sempre me envolvia magicamente.
- Você está com fome? - perguntou.
- Ahm... - tentei.
- Ok, vou preparar um lanche para nós - disse e saiu.
Deitei na cama e fiquei pensando. A demora dele interrompeu meus pensamentos.
- Miguel? - chamei.
Nem sei o que aconteceu, senti um jato de água no meu vestido, na minha cara, em tudo.
- Migueeeeeeeeeeeeeeel - berrei.
- Ops - ele falou, com uma super cara de safado.
- Que frio - falei.
- Vem cá, amorzinho - ele abriu os braços.
Não fui, só de raiva. Virei as costas, abri o armário dele e comecei a procurar uma blusa e um short.
Me troquei e fui para a cozinha.
- Hmm, mas que gatinha - ele riu.
- É, alguém molhou o meu vestido - falei, tentando ser brava.
- Nunca achei que essas roupas pudessem ser tão lindas - falou.
Não consegui me segurar, era muito charme para uma pessoa só. Saí correndo e pulei em seus braços. Adivinha em o que resultou? Beijos, perfeitos. Ele colocou a mão em baixo da blusa dele, que eu estava usando e dessa vez eu deixei.

A Menina

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fille (oito)

Isso o quê? Fiquei me perguntando.
- Você me traiu - disse ela, quase chorando.
- Amanda, como assim? - eu não tava entendendo nada.
- Você beijou o Miguel... - ela desabou.
E desde quando isso era traí-la? Ai, pessoas malucas, controle-se Maria Julia.
-Mas você não tem namorado?? - eu não estava entendendo nada.
Ela não respondeu, virou as costas e saiu, chorando, em direção ao banheiro.
- Vamos Maju - disse Miguel.
- Mas... - eu tentei.
- Nada de mas - ele finalizou.
Segui-o, sem saber para onde ele ia me levar. Eu tinha que parar com essa mania. Um dia ele podia me levar para um lugar que eu não queria ir. Desta vez ele só me levou para o carro.
- Vou te deixar em casa - disse.
- Tudo bem - respondi.
Ele colocou uma música e ficamos em silêncio, até que eu não me aguentei e falei:
- Você pode me explicar a história da Amanda?
- Ah amor... - ele estacionou o carro.
- Nada de amor, pode ir contando - eu disse.
Ele demorou um pouco e disse:
- Ano passado a gente namorava. Fomos prícipe e princesa da festa, desta mesma que acabamos de sair. Mas a gente não dava certo, não conseguia me sentir bem com ela. Achei que o melhor era terminar né. Ela ficou arrasada, não saiu de casa por um mês. Foi horrível. Não sabia que ela ainda sentia tudo isso por mim, achei que ela estava bem namorando com o Daniel.
- Nossa - foi o que consegui dizer.
- Tudo bem com você, né? - ele pareceu preocupado.
- Sim, sim - acho.
- Você não vai me deixar por causa dela, por favor - implorou.
- Claro que não, bobo - beijei-o.
Sempre que nos beijávamos era como se eu fosse até o ceu, desse três cambalhotas e descesse voando. Era mágico.
- Adoro quando você me surpreende assim - ele disse.
- Assim como? - perguntei.
- Assim - e me beijou.
Ah, entendi o 'assim'. Mas era ele que costumava fazer isso comigo.
- Vamos? - disse.
Ele ligou o carro e foi. Me dei conta que onde ele parou não era a minha casa.
- Vem amor - ele disse.
- Onde? Essa não é a minha casa - falei.
- Eu sei, é a minha - ele fez uma cara de safado e entrou.
Fui atrás né, o que mais eu poderia fazer?
- Eu te amo - deixei escapar.
- Eu também - ele disse e me beijou, beijou e beijou.
Ficaria só no beijo eternamente mas tive que voltar para a realidade quando ele começou a tirar a alça do meu vestido.

Continua,
A Menina

domingo, 11 de julho de 2010

Fille (sete)

Voltei para a realidade, ainda tonta.
- Eu te amo - ele sussurrou no meu ouvido.
Não falei nada, olhei nos olhos dele, sorri e caí em seus braços, beijando-o novamente.
Quando olhei em volta, já havia mais casais dançando. As solteiras estavam me fuzilando. Quase consegui ler os pensamentos delas: 'como essa menina, que mais parece um menino, chega aqui e em algumas semanas já consegue conquistar o Miguel, coisa que eu tentei desde sempre?'
- Tenho medo delas - escapou.
- Delas quem? - ele perguntou.
- Delas - indiquei com a cabeça.
- Ah, elas são umas crianças - ele riu.
Ele pegou na minha mão e me levou para um banquinho, fora da festa. Ficamos olhando a lua.
- Sabe que eu nunca conheci alguém como você - disse.
- Ei, mas você nem me conhece direito ainda - retruquei.
- Tem pessoas que conhecemos logo assim que avistamos, você é perfeita - ele disse, desviando o olhar.
Uma lágrima caiu, acho que ele não viu.
- Você tem que parar com essa mania de chorar - ele disse, rindo, olhando para lua.
Como assim? Minha lágrima brilha? Como ele viu se não estava olhando pra mim?
- Desculpa - pedi.
- Não precisa pedir desculpas por chorar - agora olhando pra mim.
Sorri. Era o meu jeito de expressar felicidade. E ele sabia disso.
- Eu também gosto de você - falei.
SIlêncio.
- Muito - terminei.
Beijo. É, ele gostava de me surpreender assim. E eu adorava esse jeito dele.
- Namora comigo? - ele perguntou.
Confesso que me surpreendi com o que ele disse. Nunca nada assim tinha acontecido comigo. Agora estava acontecendo tudo de uma vez só.
- Desculpa, acho que fui rápido demais - ele falou, percebendo minha reação.
- Não, é que... - começei.
- Quietinha - ele disse e me beijou.
Mais uma vez. Perfeito.
- Tá ficando frio - eu disse.
- Vamos entrar - ele me chamou.
Me deu a mão e começou a me conduzir para dentro do salão.
- Maria Julia, eu não acredito que você fez isso comigo - berrou Amanda, para todo mundo ouvir.

A Menina

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Fille (seis)

- O que foi isso - perguntei, assustada.
- Não sei - ele pareceu nem se importar com a minha pergunta.
- Sério, deve ter alguém vindo - estava preocupada.
- Não viaja - ele disse, sem desviar o olhar da minha boca.
- Tenho que ir mesmo - disse e saí correndo.
Andei por todo pátio da escola, tudo parecia estar girando, as pessoas pareciam estar me olhando, era uma sensação estranha. Continuei correndo até chegar em casa.
Ela estava lá, a mesma senhora de sempre. Criei coragem e sentei ao seu lado.
- Oi - eu disse.
Nenhuma resposta.
Respeitei e ficamos lá. As duas olhando pro nada, por um bom tempo. Lembrei que eu tinha que ler uns livros e falei, mesmo sabendo que ela não ia responder:
- Boa noite.
Tomei banho, li duas páginas e dormi, profundamente até o meu celular começar a tocar.
Não atendi. Ele parou mas segundos depois começou a tocar novamente.
- Alô - tentei falar.
- Maria Julia? - a voz do outro lado perguntou.
- Eu - tentei mais uma vez.
- Oi, é o Miguel - ele disse, por fim.
Acho que ele viu que eu demorei um pouco pra responder e começou a se explicar, mas eu não ouvi direito. A única coisa que captei foi:
- Te amo, nos vemos amanhã.
Tentei continuar dormindo, mas aquele 'te amo' ficava ecoando na minha cabeça repetitivamente.
Consegui dar uma cochilada e quando estava pegando no sono mesmo, o despertador toca.
Paciência. Levantei, tomei café da manhã e fui andando para escola, como de costume.
Já era sexta-feira. A semana tinha passado voando.
Era a última aula do dia, a aula que eu tinha com o Miguel. Depois do sinal eu sinto uma respiração no meu pescoço e ouço, logo em seguida:
- Te pego amanhã às 21h.
Eu tinha me esquecido completamente da festa. Não estava acostumada com esse tipo de evento.
Como precisava usar vestido longo, eu não tinha roupa. Nem dinheiro para comprar um. Fui no brechó da esquina da pensão e achei um vestido que me parecia ideal, só precisava de uns ajustes.
Sábado às 21h, ele estava lá, maravilhoso.
Entrei no carro e ele não falou nada, nem eu. Fomos assim, o caminho inteiro, até chegar na festa.
- Quer dançar? - ele diz, finalmente.
Ia responder sim, mas quando olho não tem ninguém na pista de dança.
Independente da minha resposta, ele me puxou, me levou bem para o centro e começou a me conduzir. Até que ele me beijou.

A Menina

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fille (cinco)

- Credo Maria Julia, que cara é essa? - Amanda pergunta.
- ... - tento falar alguma coisa, mas minha voz não sai.
Lembro de tudo o que eles fizeram, tudo o que falaram e tento nem imaginar o que eles pensaram aquela noite, no ponto de ônibus. Levantei do refeitório e saí.
Rodei o pátio da escola procurando um lugar onde ninguém pudesse me ver. Avistei uma casinha de madeira, velha, mas me pareceu o adequado.
É nessas horas que ficamos pensando na família, nos amigos antigos, em casa. Estava viajado, como de costume, até que levei um susto:
- Posso entrar?
- Oi? - quem era aquela pessoa?
- Oi, meu nome é Miguel - ele disse.
- Ahm, oi - reconheci o quarto menino, que estava sentado na mesa de almoço com a gente.
- Posso me sentar? - perguntou, já sentando.
Fiz que sim com a cabeça e, sem qurer, deixei escorrer uma lágrima.
- Você está chorando? - me olhou com uma cara estranha.
- Não. Quer dizer, sim - confusa.
- Mas por quê? - ele ficou me olhando.
Viu que eu não respondi e resolveu ficar quieto. Ficamos horas e horas sentados naquela casinha abandonada. Perdemos a aula e eu não conseguia entender porque que ele estava ali comigo.
Não aguentava mais aquele silêncio, resolvi começar a conversa:
- A festa que vai ter, tem todo ano?
- Sim - ele respondeu, frio.
Hm, tá. Achei que ele continuaria, me contando como era, o que tinha. Mas não, apenas perguntou:
- Você quer ir comigo?
Tive que parar um tempo para pensar. Coisas desse tipo não costumavam acontecer comigo. Eu era uma menina esquecida pelo mundo masculino. Era na minha e ninguém prestava atenção em mim. Por que ele estava fazendo essa pergunta?
- Tudo bem, acho - respondi, por fim.
Silêncio.
Me dei conta de que estávamos lá há muito tempo quando, pela minúscula janelinha, vi o sol se por.
- Nossa, já é tarde, tenho que ir - disse, levantando.
Ele puxou meu braço e eu caí. Nossos rostos estavam quase se tocando, os olhos quase fechando, os lábios quase beijando quando ouvimos um barulho.

Continua,
A Menina